sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Diversos tipos de fome
O máximo desejo do coração humano é uma vida sem fim, a eternidade, a felicidade. Ele é atingível somente por quem se nutre com o alimento que Cristo lhe dará, o seu corpo e o seu sangue.
No capítulo 6º do evangelho de Jesus Cristo narrado segundo São João onde, como parte central, está o discurso de Jesus sobre o pão da vida. É oportunidade para interrogar-nos sobre os desejos do nosso coração, se entre eles está a fome de Deus, e a que ponto esse desejo se encontra na escala dos valores que contam de verdade. Às vezes temos dificuldade de olhar para o alto.
Desejo é a fome de um coração insaciável. Começa já desde a infância. A fome do desejo se manifesta também quando se está satisfeito. Muitas vezes esse contínuo desejo é causa de infelicidade. Sábios antigos nos deixaram sentenças a esse respeito: “Quem muito tem, deseja mais” (Sêneca). “As coisas dos outros são as que mais nos agradam, e as nossas aos outros” (Publilio Siro). “É sempre mísero aquele que deseja (Claudiano). “Na vida, as coisas que desejamos têm a especialidade de chegar muito tarde” (Isaac B. Singer). “Coloque em uma caixinha um desejo; abre-a; encontrarás um desengano” (Pirandello). “Cem desejos, cem dores” (Buda).
Existem sem dúvida desejos não bons. No Novo Testamento, na carta de Tiago 4, 1-2), encontramos a explicação: “De onde vêm as guerras? De onde vem as brigas entre vós? Não vêm precisamente das paixões que estão em conflito dentro de vós? Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais, fomentais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir”. No Decálogo existem dois mandamentos: “Não desejar a mulher do próximo”, “Não desejar as coisas alheias”.
Poderia então perguntar-se: É melhor não desejar? Miguel de Cervantes escreveu: “Não desejes, e serás o homem mais rico do mundo”. Também o sábio Sócrates advertia os atenienses: “Menos desejos temos, e mais nos assemelhamos aos deuses!” Mas no desejo parece que esteja alguma utilidade: Os grandes desejos são necessários à humanidade: dão-lhe movimento e vida. Gustavo Flaubert dizia: “Uma alma se mede pelas dimensões de seus desejos, como se julga uma catedral pela altura de seus campanários”. Melhor ainda, pela qualidade dos desejos: “Dizei-me que coisa desejas, e eu direi quem és”. Por isso “nossos desejos nos definem: somos mais ou menos o que desejamos” (Agostinho Guillerand).
Descobrimos que não temos somente desejos maus, podemos ter também uma fome nobre, digna da condição humana. Não podemos ser senão assim, dado que nascemos do desejo de Deus. Ele nos desejou, e criou-nos à sua imagem, por isso capazes do desejo. O pecado nos impele ao mal, mas nos sentimos também e sempre reanimados pelo que é belo e bom.
Nós nos tocamos sobretudo quando conseguimos fazer um pouco de silêncio em torno de nós. Algo conforme escreveu santo Agostinho no livro das Confissões: “Tu nos fizeste para ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”.
Somos chamados a fazer a grande descoberta: Jesus veio para saciar nosso desejo de Deus, nossa fome de infinito. Jesus, na sinagoga de Cafarnaum, depois do discurso sobre o pão da vida, ficou sozinho com os Doze. Perguntou-lhes como provocação: “Também vós me quereis deixar”. Coube a Pedro, o costumeiro Pedro dos momentos difíceis, dar a resposta exata: “Mestre, a quem queres que andemos? Somente tu tens palavras de vida eterna”.
As palavras de vida eterna, as mais explícitas, Jesus as pronunciou na Quinta Feira Santa, antes de ser traído. Palavras sempre desconcertantes: “Tomai, comei, bebei: isto é o meu corpo, o meu sangue”. Depois acrescentou: “Fazei isso em memória de mim”.
Nós sacerdotes continuamos a repetir as palavras decisivas de Jesus, porque ele as propôs, ele no-las deu: “Tomai e comei”. Sabendo que contêm e exprimem um mistério insondável. O mistério de amor de Deus que se dá. Satisfaz os nossos desejos melhores e sacia a nossa fome.
Procuremos ir ao encontro do Senhor com a fome e o desejo de Deus, de coisas limpas, de uma vida em harmonia com os outros, de um encontro com Jesus
Cristo que nos nutre e nos torna melhores com a sua palavra que se faz alimento para a vida deste mundo e a vida eterna.
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Hellen's e Matheus